Brasileiro detalha retorno ao futebol na Albânia após quarentena rígida
Ex-Figueirense, William Cordeiro descreve restrições impostas no país
A volta aos gramados três meses após a pandemia do novo coronavírus (covid-19) paralisar o futebol na Albânia não foi a esperada por William Cordeiro. O Partizani, clube defendido pelo jogador desde o ano passado, foi superado pelo Kukësi por 3 a 1 no último domingo (7) pela 28ª rodada do campeonato local. Nem tudo, porém, foi negativo.
“A liga tinha recomeçado na quarta-feira passada (3), mas eu estava suspenso. Infelizmente, não vencemos, mas, particularmente, fiquei muito feliz de voltar a jogar. A ansiedade pela volta do futebol estava complicada. Tive um pouco de dificuldade porque me machuquei na última semana, uma lesão na lombar, além da falta de ritmo de jogo, que é normal. Agora, é dar sequência”, afirmou o meio-campista, de 26 anos, em entrevista à Agência Brasil.
O futebol na Albânia foi suspenso em 12 de março, três dias após a confirmação do primeiro caso da covid-19 no país. Até a última segunda-feira (8), segundo o Ministério da Saúde, 1.299 albaneses testaram positivo para o vírus e 34 faleceram. Conforme a agência de notícias chinesa Xinhua, a federação de futebol da Albânia chegou até a pedir apoio ao governo durante a paralisação, devido a dificuldades financeiras impostas pela pandemia. Com a suspensão do campeonato, houve a interrupção da venda de ingressos e repasse de direitos de transmissão.
Para convencer o governo de que a bola poderia voltar a rolar no país, o protocolo sanitário teve que ser rígido. “Até então, governo e Ministério da Saúde não queriam liberar [o futebol], diziam que seria só uma das últimas coisas a voltar, como foi. O país em si já está voltando ao normal, bares e restaurantes abertos. A única coisa que não tinha retornado era o futebol”, contou William, que, no Brasil, defendeu clubes como Figueirense, Oeste, Ferroviária e CRB.
Os treinos foram retomados 15 dias antes do campeonato ser reiniciado. Segundo o brasileiro, os jogadores foram submetidos a testes e, durante as atividades, tinham a temperatura aferida, além de serem orientados a manter uma distância mínima de dois metros entre eles. Na volta das partidas, inicialmente com portões fechados,tiveram de seguir novas orientações.
“Ficou definido que [nos jogos] teria um número limitado de repórteres e policiais, que os jogadores não relacionados não poderiam estar em contato com os convocados – não poderiam ir ao vestiário, por exemplo, antes da partida. Nas tribunas, no máximo 20 pessoas, como presidentes e diretores. Durante o percurso [até o estádio] e antes do aquecimento, era obrigatório usar máscara. Todo cuidado é pouco”, descreveu William, que, apesar das restrições, revelou não ter recebido uma determinação específica sobre comemorações. “Acho que é pela questão [da pandemia] estar mais tranquila aqui, se comparada a outros países. Vi muitos times fazendo gols e os atletas celebrando juntos. Claro que a gente evita [contato], mas não vi comunicado do tipo”, disse o brasileiro do Partizani, clube de Tirana, capital albanesa.
Linha dura e susto
A rotina de William começa a voltar ao normal após três meses de uma quarentena rígida determinada pelo governo albanês. Entre as medidas do primeiro-ministro Edi Rama, estiveram o fechamento de fronteiras, a proibição de circulação de veículos e de transporte público, o toque de recolher e a aplicação de multas. “Peço desculpas mil vezes, mas essa guerra não pode ser vencida de outra forma”, declarou Rama em comunicado divulgado nas redes sociais no início da pandemia no país.
“Não podia sair ninguém na rua, só para ir ao mercado ou farmácia e durante uma hora. O exército estava na rua. Tínhamos que ficar em casa e cumprir. Se fosse pego na rua, podia ser preso”, recordou o brasileiro, que passou a quarentena com a namorada. “Depois da primeira semana, elaboraram um número de telefone para o qual, se você precisasse sair, teria que mandar mensagem 24 horas antes. Se saísse no horário errado, prendiam. Isso era para que todo mundo respeitasse. É complicado. Acredito que todos ficaram em casa e o governo fez um bom trabalho. As atitudes foram certas e rápidas”, avaliou.
À distância, William acompanha os desdobramentos da covid-19 no Brasil, onde estão os familiares. “Sou baiano, mas fui criado em São Paulo e a família é toda de lá. E meu filho, de cinco anos, mora com a mãe em Itajaí (SC). Falo com ele todos os dias pelo vídeo, com a minha mãe também. Graças a Deus, está todo mundo bem. Infelizmente, em São Paulo a situação está um pouco mais crítica, mas em Santa Catarina está menos pior, vamos dizer assim”.
O detalhe é que a pandemia do novo coronavírus não é o único perrengue recente que William passou na Albânia. Em 26 de novembro do ano passado, um terremoto de 6,4 na escala Richter matou 51 pessoas e deixou mais de 6,3 mil sem moradia no país. “Foi um susto. Em Tirana, a gente sentiu o tremor, mas não houve desabamento. No litoral, teve muitas mortes, infelizmente. Meu clube fez uma ação para levar mantimentos e roupas aos desabrigados. Eu vi aquilo e me coloquei no lugar daquelas pessoas porque tenho filho e vi muitas crianças naquela situação delicada”, lamentou.
Se o terremoto e a quarentena por causa da covid-19 se tornaram coisa do passado, o desafio, agora, é dentro de campo. Atual campeão, o Partizani está só em sétimo (entre 10 times) no Campeonato Albanês, com a mesma pontuação do Vllaznia, oitavo colocado e que, se o torneio acabasse agora, disputaria um playoff para não ser rebaixado. Ao mesmo tempo, o clube de William está sete pontos atrás do Laçi, quarto colocado, e que ocupa a zona de classificação para a Liga Europa, segunda competição em importância no futebol europeu.
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