Pole dance vira opção de esporte também para crianças
Mães contam que ainda existe muito preconceito associado à atividade e que a sociedade enxerga a prática somente como um algo ligado à sensualidade
Natação, ballet, judô, futebol…nada disso. Sabe um dos lugares preferidos de algumas crianças em Teresina? Na sala de pole dance. Isso mesmo, praticando esta atividade que Jamile Holanda, 11 anos, Ana Vitória Silva, 11 anos, e a pequena Lunna Mendes, de apenas 1 ano e oito meses de idade, passam algumas horas da semana. E isso não é coisa de menina. Quem também, semanalmente, pratica o pole kids, modalidade infantil do pole dance, são os garotos Gabriel Pereira, 7 anos, e Victor Sales, 08 anos.
"Isso aqui é difícil, mas é bem legal. Tem muita gente para eu me divertir, conhecer e posso chegar até lá no alto. O que eu mais gosto é de subir e descer, rodar nos postes. Quando eu crescer, quero continuar fazendo pole e não penso em parar", disse o menino Gabriel, que já frequenta as aulas há cerca de dois meses.
A pequena Lunna ainda não fala direito, mas a desenvoltura com a barra fixa, impressiona. Assim como Gabriel e as outras crianças, a garotinha 'pratica' a atividade com a supervisão da mãe, que faz pole dance fitness. Camilla Mendes de Oliveira, conta que começou a frequentar as aulas após o nascimento de Lunna e que a filha, primeiramente, se interessou em visitar o studio pelas cores.
"Antes de praticar o esporte, eu fazia academia, mas se tornou muito monótono, deixou de ser prazeroso e eu ainda não podia ficar com minha filha. Quando eu chegava em casa, depois de um dia estressante, não aguentava ir para a academia e tinha que cuidar da nenê. Quando eu descobri o pole, aí pronto, não faltei nunca mais. Ela gosta de pole dance desde que tinha um ano de idade. Sempre que vinha para o stúdio, meu esposo vinha me pegar e ela achava tudo muito lindo, por conta das cores e luzes…começou a achar interessante. Então, eu comecei a fazer as coisas para ela ver e ela começou a gostar. Aqui, eu venho duas vezes por semana, é algo dinâmico, todo o dia você se supera, aprende uma atividade nova e isso é gostoso. Dos 17 kg que ganhei na gravidez, já perdi 15, disse a mãe de Luna.
Preconceito
Mães que têm filhos 'praticando' o esporte, contam que ainda existe muito preconceito associado à atividade e destacam que a sociedade enxerga a prática somente como um algo ligado à feminilidade e sensualidade.
A mãe de Gabriel, a psicanalista Katiúscia Pereira, revela que começou a levá-lo para o pole kids porque frequentava as aulas e não tinha com quem deixar o filho. Ela disse que, de início, até mesmo o marido estranhou que o filho estivesse praticando o esporte.
"Ele estranhou o pouquinho, mas ele veio ver uma aula só para homens e de boa ele aceitou. Todo mundo pensa que o pole é um exercício sensual, quando na verdade é um esporte. Eu explico para as pessoas que é um desporto, uma atividade que trabalha a musculatura, a flexibilidade, trabalha a autoestima e que existe esse lado que é feito só para homens e que homens fazem pole fitness. O Gabriel, por iniciativa própria, começou a subir na barra, acabou ficando e a gente deixou. Se meu filho quiser continuar, ele terá nosso total apoio", disse a psicanalista.
No Piauí, a atividade ainda não é reconhecida como uma modalidade esportiva, mas o lançamento da Federação Piauiense de Pole Dance (FEPIPD) já tem data prevista e acontece de 23 a 25 de outubro, em Teresina. A mãe de Lunna, acredita que o evento representará mais que um marco para a história do esporte no Estado.
"Espero que com o lançamento da federação, consigamos com que a minha Lunna e outras crianças não sofram o mesmo preconceito que nós sofremos: de falar que faz pole dance e as pessoas se assustarem. Muita gente não encara o pole dance como atividade física; associa a dança de bar e a prostituição, às coisas piores possíveis. Nosso pole dance é fitness. Em primeiro lugar, a gente se respeita, respeita os limites do nosso corpo. Faço questão que minha filha continue e vou incentivar demais, porque é uma atividade deliciosa", acrescenta Camilla Mendes.
A proprietária do stúdio, Iara Vaz, declara que o Piauí tem avançado muito em relação ao esporte e acredita que a falta de informação é um dos principais motivos para a visão deturpada da sociedade.
"Quando as pessoas têm contato com o pole dance fitness, elas acabam abrindo mais a mente e reformulando seus conceitos. Ainda falta informação, por isso, sempre peço para quem pratica o esporte, não baixar a cabeça e deixar o outro impor seu preconceito. Assim como no futebol existe o futsal, o futebol de areia e outros…no pole dance é a mesma coisa, existe o fitness, o kids, para competição…Peço que repassem a informação correta e que aquela pessoa busque conhecer melhor. A visão que as pessoas têm do pole dance depende muito da postura do profissional. As apresentações são sempre com roupas menores porque precisamos da aderência da pele com a barra, mas buscamos mostrar movimentos de força, flexibilidade e resistência. Nunca, movimentos sensuais", acrescenta Vaz.
Benefícios para gente grande e para os pequeninos
A proprietária do stúdio explica que a ideia de abrir turmas aos pequeninos surgiu da própria necessidade das mães. Ela conta que, atualmente, existem cerca de 15 crianças que praticam o pole kids e que o número tem sido crescente.
"Eu ainda não mantenho uma turma infantil. Abro espaço para que as mães possam trazer seus filhos. Muitas vezes, as mães não têm com quem deixar os filhos e elas querem ficar perto e acabam trazendo. Quando isso começou a acontecer, percebemos que as crianças se divertiam muito. A gente ensina alguns passos, mas não é nada específico. Estou me formando em Educação Fisíca e só quero abrir uma turma quando eu estiver formada. Por enquanto, mantemos a atividade apenas como lazer, uma diversão para as crianças, oferecendo uma oportunidade para as mães se exercitarem e estarem perto dos filhos. Para eles é muito divertido e é até difícil a mãe sair do stúdio, porque as crianças não deixam", disse a proprietária.
Para os adultos, além da força, flexibilidade e resistência, o esporte é importante para se manter o equilíbrio emocional, destaca Vaz.
"Uma aula corresponde a dois dias de academia. O pole fitness é equiparado ao trabalho da musculação pois mexe com todos os grupos musculares. Eu era bastante tímida e percebi uma transformação interna muito grande depois que comecei a praticar o esporte. O ser humano está deixando ser levado pela falta da inteligência emocional e partir do momento que você busca artifícios para dar subsídios para se ter uma vida mais equilibrada emocionalmnete, tudo melhora em sua vida: o trabalho, a família, o relacionamento com os outros e consigo mesmo. Hoje a mídia imprime um padrão de beleza massificante, as mulheres se cobram demais e ficam com a autoestima muito baixa. O pole resgata a autoestima e proporciona a possibilidade de se perceber capaz. Tudo que a gente faz, acaba colocando um 'não' na frente, pois não acreditamos na nossa capacidade. O pole dance nos mostra que somos capazes. A cada dia é uma nova e desafiadora lição e cada dia estamos vencendo, modificando a percepção em relação ao outro. Quando a pessoa se fortalece, se torna mais determina, confiante…tudo muda".
Sem contra-indicação?
Iara Vaz conta que o pole dance fitness é indicado para crianças, homens, mulheres e atém mesmo para gestantes. Ela- que está grávida de cinco meses- revela que não pensa em parar.
"Continuo praticando pole dance, agora com algumas limitações por recomendação médica. Estou com cinco meses de grávida e pretendo praticar o esporte até os últimos dias da gestação. Acredito que a atividade está fazendo com que minha gravidez seja saudável, que eu não ganhe muito peso. Além da questão mental, pois é um momento de muita fragilidade. A mulher fica sensível pois é um momento de grandes trasnformações. O pole está me trazendo equilíbrio para que eu possa curtir de uma forma mais saudável minha gravidez. Pra mim, está sendo muito benéfico".
CIDADE VERDE
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