Muricy Ramalho lembra morte do pai em campo e diz: ‘Não quero morrer ali dentro’
O técnico tricampeão brasileiro e campeão da Libertadores sofre de problemas cardíacos e decidiu se afastar dos gramados
Marinho Ramalho vendia frutas em um mercado onde hoje funciona uma estação de metrô e jogava bola em um areal onde hoje existe um shopping center. Nos fins de semana, levava o filho Muricy a campos de várzea, hoje varridos por prédios residenciais e escritórios em Pinheiros, zona oeste de São Paulo.
Durante um jogo, o meio-campista já cinquentão teve uma parada cardíaca em campo. Muricy, 20 e poucos anos, jogava no México. Estava prestes a levantar o troféu de campeão nacional, o primeiro grande título de sua carreira. Não conseguiu um avião que lhe permitisse estar no velório do pai.
“Às vezes eu olho para os meus filhos e falo: ‘Vocês têm que aproveitar bastante o pai e a mãe de vocês'”, disse Muricy ao UOL Esporte, semanas depois de deixar o Flamengo e anunciar que dará uma pausa na carreira. Ele chegou a temer que o futebol também o levasse à morte precoce.
“Eu não vi o meu pai nem ser enterrado. Não é trauma, mas que a gente lembra muito a gente lembra. Meu pai era muito novo. O futebol por um lado é muito bom e por outro, é muito ruim porque tira tudo de você.”
Muricy Ramalho, tricampeão brasileiro pelo São Paulo, campeão da Libertadores pelo Santos e considerado um dos melhores treinadores do país, ainda não sabe muito bem o que será de sua carreira daqui pra frente. Cardíaco, 60 anos, ele decidiu se afastar dos gramados depois de inúmeros episódios de arritmia sofridos na lateral do campo. Se ele tem medo de morrer?
“Todo mundo tem”, afirmou o treinador. “Acontece que como eu perdi meu pai assim, jogando bola, então isso é um problema sério que os médicos falam que eu tenho. Eu estou bem até, mas tenho o histórico, meu pai morreu disso e minha mãe também, de derrame. Ali realmente é um lugar tenso, é um lugar perigoso. Eu não quero morrer ali dentro do campo, pô!”
O histórico hospitalar de Muricy
Muricy sofre de arritmia cardíaca desde a época do tricampeonato brasileiro com o São Paulo (2006-2008). Quando ele treinou o Santos, precisou ser internado por uma diverticulite, uma inflamação no aparelho digestivo. O problema o acompanhou até sua última passagem pelo São Paulo. Há um mês e meio, já no Flamengo, ele voltaria ao hospital para tratar do coração e não pôde acompanhar o time em um jogo no Ceará.
Após renunciar ao comando flamenguista, o técnico pretende ficar o resto do ano sem trabalhar, cuidando da saúde, vivendo entre a capital paulista, seu sítio em Ibiúna e seu apartamento no Guarujá. Ano que vem, pretende buscar emprego, não como técnico, mas como coordenador. Quer trabalhar com futebol, mas não sob a pressão do banco de reservas.
Ao UOL Esporte, ele comentou sobre seu problema cardíaco: “Isso é uma coisa hereditária que não tem jeito, não tem remédio, não tem cura, não tem nada. Você pode tratar de tudo, mas isso aí vai continuar.”
DIÁRIO DO SERTÃO com UOL Esporte
Leia mais notícias no www.diarioesportivo.com.br, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário