Thiago Silva se emociona com volta à Seleção e diz não pensar em Dunga
O zagueiro abriu o coração. Não fugiu de nenhum tema, e relembra a pergunta que mais ouvia no período de mais de um ano longe da seleção brasileira.
Aliviado. Empolgado. Realizado. Qualquer um dos sentimentos pode definir como o zagueiro Thiago Silva recebeu a reportagem do Esporte Espetacular em Paris, na última quarta-feira. E tudo isso porque o seu nome voltou a figurar na lista de convocados da seleção brasileira para os próximos jogos da equipe, contra Bolívia e Venezuela, pelas eliminatórias da Copa de 2018, na Rússia.
Um dia antes de completar 32 anos, o defensor do Paris Saint-Germain abriu o coração. Não fugiu de nenhum tema, fez uma revelação ao relembrar a pergunta que mais ouvia no período de mais de um ano longe da seleção brasileira.
– Por que você está na seleção da Fifa, melhor (zagueiro) do mundo três anos seguidos, e não está na seleção brasileira? Sinceramente, era difícil explicar. E o mais difícil era explicar pros meus filhos que o pai deles não estava na seleção brasileira. Sempre que eu via um jogo da Seleção, eles perguntavam: pai, por que você não está lá? E você não poder responder.
Thiago não dava entrevistas exclusivas para veículos do Brasil há mais de um ano. Nem ele lembrava-se da última. Afirmou que foi “auto defesa” ficar sem falar, principalmente depois que passou a ser preterido por Dunga, ex-treinador da Seleção. E o caminho rumo ao retorno, o defensor do PSG lembra-se muito bem.
Thiago Silva não sabe explicar qual os motivos levaram o ex-treinador do Brasil a deixá-lo fora das listas. Não crê, inclusive, que o toque de mão que ajudou o Brasil a ser eliminado da Copa América de 2015, em duelo contra o Paraguai, pelas quartas de final do torneio, tenha sido fundamental para tal situação.
O zagueiro afirmou ainda não guardar mágoa de Dunga. Mas ao ser questionado sobre o que vinha em sua cabeça ao lembrar do comandante, o defensor afirmou:
– Não penso. Não tem que pensar porque eu não dependo dele pra ser feliz. Dependo apenas de Deus, da minha família me ajudando. É uma coisa do passado. Não desejo mal para ele. Espero que Deus possa abençoá-lo e que ele possa ter cada vez mais felicidade. Mas eu procuro não pensar.
Na entrevista, que também serviu para comemorar o aniversário com a esposa Isabella e com os filhos Isago e Iago, Thiago Silva falou ainda sobre não ter sido liberado pelo Paris Saint-Germain para as Olimpíadas e dos motivos que o levaram a não cobrar o pênalti contra o Chile, nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2014.
Confira abaixo o restante da entrevista:
EE: Como foi essa não liberação para as Olimpíadas?
THIAGO SILVA: Era uma e meia da manhã já, eu estava na cama, prestes a dormir, mas sempre com um pensamento. Sabe quando você sente alguma coisa, você fala: alguém vai me ligar, vai me ligar. E o telefone tocou. Era o Micale (Rogério, treinador da seleção olímpica). Passei a noite em claro, pensando, já comecei a mandar mensagem pro presidente. Poxa presidente, eu preciso ir, essa é minha oportunidade de voltar pra seleção brasileira, enfim.
(NR: o Paris Saint-Germain liberou apenas o zagueiro Marquinhos para os Jogos do Rio de Janeiro).
O que te afastou da Seleção? Foi aquele toque de mão contra o Paraguai?
Não acredito, sinceramente não acredito porque todos nós que jogamos futebol, no esporte coletivo, você tem erros, é normal, somos seres humanos, você erra. Falar pra você que fiquei fora por aquele toque de mão, não acredito que tenha sido. Mas sim por outros fatores que agora não me importam saber porque já é passado. Agora é colocar uma pedra em cima para esquecer.
E em cada convocação do Dunga você renovava a esperança em ser chamado outra vez?
Quer que eu seja sincero? Não, não esperava. Era uma coisa quase perdida, não tinha tanta esperança de voltar.
Alguém, filho, sua mulher, amigo, já te perguntou: “Thiago, você faz parte da seleção da Fifa, mas não faz parte da seleção brasileira”. Já te perguntaram isso?
Muitas pessoas. Inclusive, pessoas próximas chegaram a conversar comigo sobre um possível deixar a seleção brasileira. Falei: “isso eu não vou fazer nunca. Não vou fazer nunca isso. Por mais que seja difícil estar fora, eu nunca vou fazer”. Falar: “A partir de hoje eu não jogo mais com a camisa da Seleção. Isso eu não faço”. É diferente de um treinador te deixar fora, outra é você falar que não quer mais. Nunca passou pela minha cabeça. Por que você está na seleção da Fifa, melhor (zagueiro) do mundo três anos seguidos, e não está na seleção brasileira? Sinceramente, era difícil explicar. E o mais difícil era explicar pros meus filhos que o pai deles não estava na seleção brasileira. Sempre que eu via um jogo da Seleção, eles perguntavam: pai, por que você não está lá? E você não poder responder.
Você viveu em comunidade, viu tiroteio de perto, depois quase morreu de tuberculose na Rússia. Você já passou de tudo nessa vida e não teve coragem de bater um pênalti. O que se passou ali?
Os meus últimos cinco pênaltis (antes da Copa) no PSG, eu fiz o primeiro e perdi os outros quatro. Sendo eliminado de duas Copas aqui e eu não estava com a confiança pra bater. Lembro até que brinquei e falei com o Felipão: bato depois do Júlio César. Ele está com mais confiança do que eu. Mas não era o simples fato de chegar lá e, como capitão, se esconder, de nenhuma maneira. Eu não posso assumir uma coisa que eu esteja sem confiança e jogar tudo por terra.
Se acontecesse de novo uma situação de o Brasil numa disputa de pênaltis, você repetiria a decisão ou hoje você aceitaria?
Hoje eu aceitaria, hoje eu aceitaria, cobraria o pênalti. Sempre nos finais dos treinamentos eu estou procurando bater uns pênaltis pra ir pegando confiança. Se eu não treinar vou estar sem confiança sempre.
O Tite vem revezando os capitães e só escalou até agora jogadores que já tiveram essa experiência. É o seu caso, por exemplo. Por onde passou foi líder, foi capitão. Se ele te chamar pra ser o capitão na sua volta, você aceita?
Aceitaria, aceitaria. Não é que aconteceu a situação que todos sabem da faixa, mas aceitaria sem problema nenhum e se não tiver que ser também não tem problema nenhum. Nunca cobrei de nenhum treinador essa situação. Ancelotti, Allegri, Leonardo, Blanc, Mano, Felipão… Foram situações que foram acontecendo ao longo da minha caminhada.
(NR: em novembro de 2014, após retornar à Seleção, Thiago Silva perdeu o posto de capitão para Neymar e a titularidade. Em Viena, o jogador disse estar chateado com a escolha do então técnico Dunga).
Por mais que eu tenha algumas convocações já, acho que mais de 50, parece que essa agora foi a primeira” Thiago Silva
A Copa do Mundo ficou marcada por aquele imagem do choro. Você estava com algum tipo de problema?
Em nenhum momento eu tive problemas de cabeça como saiu, alguma entrevista que eu dei aqui na França saiu depressão, nunca tive depressão, jogo num dos maiores clubes do mundo, tenho a maior família do mundo pra mim. Sou um cara que me cobro muito. Minha esposa até fala: você é muito chato, chega do jogo e vai ver novamente para saber se errou. Eu sou assim. E eu não tive coragem de olhar o jogo contra o Paraguai, e nem contra o Chelsea, por causa do meu erro.
Tempo perdido ter ficado fora da Seleção por um ano e três meses?
Nunca vou falar que foi um tempo perdido, não. Foi um tempo de aprendizado e, com certeza, isso vai servir pra minha volta. Por mais que eu tenha algumas convocações já, acho que mais de 50, parece que essa agora foi a primeira.
Era difícil acompanhar a Seleção de fora?
Sempre que o pessoal ia pra seleção convocado a gente ficava aqui, dois, três jogadores. A maioria ia para as suas seleções. E você chegava no treino e via três jogadores pra treinar, era duro. Agora serão apenas dois.
Foi um cartão bobo aquele nas quartas de final da Copa, contra a Colômbia?
Foi um cartão bobo sim, mas em nenhum momento eu tive intenção de parar o goleiro, nenhum momento tive intenção de tirar a bola dele. Se repararmos a imagem, eu estou numa reta e aí ele sai da dele e vem pra minha e se choca comigo. Depois, a bola cai, eu chuto, e é uma outra situação, é um erro. De repente, se eu não tivesse chutado, o juiz não teria me dado cartão amarelo.
Voltar à Rússia como jogador da Seleção numa Copa do Mundo é dar várias voltas por cima?
-Dá algumas né? Se Deus quiser, com a classificação pra Copa do Mundo, voltar à Rússia para o Mundial e, porque não, ser campeão lá onde praticamente tudo começou na minha vida.
(NR: quando atuava pelo Dínamo de Moscou, em 2005, Thiago Silva teve tuberculose e quase foi obrigado a encerrar a carreira precocemente).
GLOBO ESPORTE
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