Outro lado do título: cerco à arena do Palmeiras reforça cenário de guerra
Jogo de praticamente uma única torcida acaba tendo clima tenso por causa da atuação de policiais militares; sócios do Verdão relatam abuso de autoridade
O domingo foi de festa para o torcedor palmeirense. A conquista do título brasileiro após vitória por 1 a 0 sobre a Chapecoense, na arena, fechou de forma perfeita a temporada do clube. Porém, um cenário nada animador foi visto nos arredores do estádio. O cerco da Polícia Militar ao local voltou a causar polêmica, e torcedores relataram muitos problemas, inclusive de abuso de autoridade de alguns militares.
A confusão começou sete horas antes do início da partida. Às 10h, alguns torcedores já se concentravam em bares nas ruas Palestra Italia e Caraibas. A ordem dos policiais militares era evacuar ambas. Mesmo os torcedores que tinham ingressos para a partida eram obrigados a se deslocar até os gradis posicionados pelos oficiais.
A reportagem do GloboEsporte.com viu um torcedor no bar se revoltar e ser ameaçado de prisão por “desacato à autoridade”. Uma sócia do Verdão, que foi impedida de passar para entrar no clube, ouviu de um PM: “Se a senhora insistir, não vai para o clube, mas para a delegacia”. Outro torcedor barrado perguntou o motivo e ouviu de um policial a seguinte frase: “Não sabe o que é não? Não vai entrar. Porque eu não quero”.
– Isso aqui está parecendo um enterro – definiu um sócio ao ver o clima ruim e as ruas vazias.
De fato, por muitas horas antes do jogo, o clima nos arredores da arena era de velório. Torcedores eram impedidos de transitar para fazer festa. O procedimento adotado pelo 2º Batalhão da PM tem o aval do Ministério Público e também do presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, que é a favor de impedir pessoas sem ingresso de circular nas imediações do estádio. O problema é que, no domingo, mesmo torcedores com ingressos tiveram dificuldade para circular no local.
Alguns sócios que tentavam acessar o clube eram impedidos de atravessar a rua após a colocação dos gradis na Palestra Italia. Pessoas sentadas nos bares foram obrigadas a deixar os estabelecimentos, esvaziados por cerca de uma hora para averiguações. A rua Venâncio Aires, paralela da rua do estádio palmeirense, acabou ficando com grande aglomeração.
Em um dia histórico para o clube, a festa, que poderia ser semelhante à do título da Copa do Brasil no ano passado, foi limitada. Em vez de torcedores, dois blindados do Batalhão de Choque ocupavam a Rua Palestra Itália. O clima começou a tomar cara de jogo decisivo apenas cerca de duas horas antes do apito inicial.
Passavam dos bloqueios apenas pessoas que exibiam ingressos físicos ou provavam que estavam com o cartão do programa de sócios-torcedores carregado para a partida contra a Chapecoense. A averiguação era feita por meio de tablets, procedimento demorado, que gerou filas e atrasou a entrada de alguns torcedores.
Quando a bola já rolava, bombas eram ouvidas do lado de fora do estádio. Uma mulher foi vista passando mal e sendo retirada no colo de um homem. Um blindado da PM utilizou jatos de água para dispersar torcedores que tentavam assistir ao jogo em televisões nos arredores do estádio, aumentando a revolta.
No setor visitante, para evitar palmeirenses infiltrados, a Polícia Militar exigia que os torcedores exibissem o RG. Se não fosse de Santa Catarina, a pessoa não era liberada para comprar ingressos. Não houve qualquer explicação mais detalhada sobre a medida e nem aviso prévio.
Na opinião de Paulo Nobre, o cerco à arena é uma medida de segurança aos torcedores que vão ao estádio. A repercussão entre os torcedores, porém, era diferente. O clima era de temor e revolta, mais uma vez. O clima pacífico de um jogo quase de torcida única acabou se transformando em tensão.
A reportagem do GloboEsporte.com tentou questionar um policial sobre a operação nas imediações da Palestra Italia, mas foi ordenada a sair do local onde se encontrava. Em contato telefônico, o 2° Batalhão de Choque informou que não havia um balanço sobre o trabalho no estádio.
A convicção entre sócios do Palmeiras é que a entrada de Mauricio Galiotte na presidência do clube abrirá a possibilidade de diálogo sobre essa polêmica. Considerado de perfil mais conciliador do que Paulo Nobre, o novo mandatário é visto com bons olhos pela oposição.
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