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Em carta aberta, Marta relembra início difícil: ‘Pertenço aos gramados’

Aos 31 anos, a brasileira publicou uma carta simbólica para uma versão mais jovem dela mesmo

Por Priscila Belmont

25/08/2017 às 09h38

© Mike Blake / Reuters

Cinco vezes eleita a principal jogadora do mundo pela Fifa e considerada a melhor atleta do futebol feminino em todos os tempos, Marta fez uma emocionante reflexão de sua trajetória no esporte nesta quinta-feira. Aos 31 anos, a brasileira publicou no site “The Players Tribune”, utilizado para personalidades do esporte contarem suas histórias, uma carta simbólica para uma versão mais jovem dela mesmo.

A carta é “endereçada” à Marta de 14 anos, que está se preparando para deixar a pequena cidade de Dois Riachos-AL para tentar a sorte no futebol no Rio. Entre os conselhos e as lembranças deste início de trajetória, a jogadora relatou a infância pobre e revelou episódios nos quais quase desistiu do esporte por causa do preconceito.

“Crescendo numa cidade pequena como Dois Riachos, você se impôs. Mas não pelo seu talento. Não, você recebeu olhares estranhos e comentários maldosos todos os dias simplesmente porque você era uma garota. Uma garota que amava futebol. Não havia outras garotas jogando futebol. E as pessoas faziam questão de deixar isso claro para você”, lembrou.

Marta ressaltou o papel de sua mãe para que ela seguisse jogando quando criança e lembrou de um episódio particular, quando foi impedida de participar de um torneio por ser uma garota e se decepcionou com a falta de apoio de seu time. “Você ainda se lembra das lágrimas brotando dos seus olhos?”, perguntou para ela mesma.

“Os comentários, os julgamentos, as piadas, tudo aquilo não vai parar. Aqueles momentos, enquanto os garotos estão num vestiário e você está sozinha, num banheiro pequeno logo ao lado, tentando colocar sua camisa de futebol tamanho grande e calções de menino que vão para baixo dos seus joelhos, são solitários. Por um tempo, futebol será solitário.”

Na carta, Marta tratou a viagem ao Rio como fundamental para mudar sua vida. Mesmo sem a certeza de um teste, confiou na possibilidade de disputar uma “peneira” pelo Vasco. Se destacou, foi contratada e, daí para frente, apesar de outros diversos obstáculos enfrentados, se transformou no maior nome do futebol feminino do Brasil.

“No mundo inteiro, existem meninas que se sentem do mesmo jeito. Meninas que recebem olhares, meninas que são questionadas sobre estar ali, meninas que são expulsas de campeonatos e que recebem apelidos nada elogiosos. Mas essa solidão não vai durar. E não vai demorar muito para que vocês estejam todas jogando juntas”, comentou.

Medalhista de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004 e Pequim-2008, campeã da Copa do Brasil e da Libertadores, duas vezes medalhista de ouro em Jogos Pan-Americanos e eleita cinco vezes consecutivas a melhor jogadora do mundo – de 2006 a 2010 -, Marta elegeu um momento em 2006 como um dos mais memoráveis da carreira: ao voltar para Dois Riachos logo após vencer o prêmio de melhor do mundo pela primeira vez.

“Haverá uma multidão de pessoas esperando por você. Todo mundo quer ver a heroína da cidade que está de volta. Eles até mesmo vão carregar você no carro do Corpo de Bombeiros. Você não será mais rejeitada. As mesmas pessoas que diziam que você era estranha, que você não podia jogar – que você não devia jogar – estarão te aplaudindo enquanto você passa. Você é uma mulher. E você é uma jogadora de futebol.”

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