Árbitro admite ter reescrito súmula do Paraibano, mas sem alterar o conteúdo
Francisco Santiago é acusado de ter omitido, a mando do presidente da Comissão de Arbitragem, atos de vandalismo da torcida do Botafogo-PB na partida contra o CSP, pela 7ª rodada do estadual
No dia seguinte a uma reportagem do programa Fantástico ter revelado que Botafogo-PB x CSP é um dos jogos que estão sob suspeita da Operação Cartola, da Polícia Civil e do Ministério Público, que investiga esquemas de corrupção no futebol paraibano, o árbitro daquela partida resolveu se pronunciar. Francisco Santiago negou que tenha alterado o conteúdo da súmula do confronto que terminou num empate em 3 a 3. No entanto, admitiu que precisou reescrever o texto do documento para melhorar a compreensão do seu relato.
Francisco Santiago, árbitro do quadro da Federação Paraibana de Futebol (FPF), é acusado de ter omitido, a mando do presidente da Comissão de Arbitragem, José Renato, atos de vandalismo da torcida do Botafogo-PB no duelo com o CSP, válido pela sétima rodada da primeira fase do Campeonato Paraibano.
– A súmula foi reescrita. A última parte havia ficado com um texto ruim, então eu fui procurado pelo presidente da Comissão de Arbitragem, Zé Renato, para escrever o meu relatório de uma forma mais clara e objetiva. No caso, eu reafirmei a minha posição de que não tinha conseguido identificar quem foi o responsável por lançar os objetos – declarou o árbitro da FPF.
Contudo, segundo a Polícia Civil, a diretoria do Botafogo-PB entrou em contato com José Renato para pedir que os eisódios não fossem relatados na súmula. O presidente da Comissão de Arbitregam, por sua vez, orientou Francisco Santiago a agir de acordo com o desejo da diretoria botafoguense.
Em partida válida pela sétima rodada do Campeonato Paraibano, o Botafogo-PB recebeu o CSP e, após uma disputa bastante movimentada, o placar foi fechado em 3 a 3. O Belo, inclusive, chegou a estar perdendo por 3 a 1, mas arrancou um empate nos minutos finais.
Após o encerramento do duelo, um tumulto começou, já que os jogadores do Tigre foram tirar satisfações com o árbitro Francisco Santiago, que relembrou os detalhes daquele pós-jogo.
– Aquele jogo foi bem difícil, tivemos muito tempo de acréscimo, foram sete minutos. Após o encerramento da partida, eu tive que expulsar um atleta do CSP, por reclamação. E foi aí que o pessoal do próprio CSP veio até mim e me trouxe dois objetos: uma garrafa de refrigerante e uma sandália. Eles me contaram que os mesmos foram lançados pela torcida do Botafogo-PB. No calor do jogo, eu fui procurado por um radialista e até cheguei a confirmar que a garrafa e a sandália vieram da torcida botafoguense.
E completou, explicando por que repensou os relatos que registraria na súmula:
– No vestiário, com a cabeça mais tranquila, eu comecei a refletir: será mesmo que veio da torcida do Botafogo-PB? Qual o interesse do CSP em trazer isso? A partir daí, eu fiz o meu relatório na súmula de uma forma bem clara. Foram arremessados dois objetos e eu não consegui confirmar de onde eles partiram. Essa responsabilidade iria para o Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba, que deveria solicitar as imagens do jogo, fazer uma análise e punir o culpado – afirmou Francisco Santiago.
Além da partida entre Botafogo-PB e CSP, a polícia revelou à reportagem do Fantástico outros dois jogos desta edição do Campeonato Paraibano sobre os quais há provas de manipulação. Pela nona rodada do estadual, o Nacional de Patos recebeu o CSP e foi derrotado por 2 a 0. De acordo com a polícia, para conseguir uma classificação melhor na competição, dirigentes do Botafogo-PB queriam que o CSP vencesse. E, momentos antes do sorteio da arbitragem, solicitaram que o árbitro fosse João Bosco Sátiro e o pedido foi atendido. O Naça acabou tendo um gol anulado.
Por fim, pela fase de repescagem do Paraibano, o Botafogo-PB recebeu o Sousa no Estádio Almeidão, em João Pessoa. O Belo venceu por 3 a 1 e se classificou para as semifinais do estadual. Na ocasião, o árbitro da partida foi Antônio Carlos Rocha, também investigado por fazer parte do esquema. Aos 11 minutos do primeiro tempo, com o jogo ainda empatado em 0 a 0, ele marcou um pênalti contestável em favor do Botafogo-PB, que precisava vencer para se classificar.
A Polícia Civil e o Ministério Público acreditam que a compra de resultados não começou neste ano. A suspeita é de que o esquema aconteça pelo menos desde 2015, mas as edições desde 2011 também estão sendo averiguadas, como confirmou o delegado Lucas Sá ao GloboEsporte.com ainda no início da semana passada. Ou seja, milhares de torcedores que compraram os ingressos e foram até o estádio para vibrar pelos seus times podem ter sido enganados.
Confira outros trechos da entrevista do árbitro Francisco Santiago:
A súmula
O texto não foi modificado, eu mantive a minha postura. Agora, com as imagens, é possível identificar realmente quem jogou, de maneira responsável.
Manipulação dos jogos no futebol paraibano
Esses boatos de manipulação de resultados existem. Não diretamente da Comissão de Arbitragem, mas conversas sobre resultados encomendados nos bastidores desde longa data que acontecem e eu escuto. Mas fatos que comprovem a veracidade dos esquemas, infelizmente eu não tenho.
Sua defesa
A minha conduta é retilínia. Eu vivo do meu trabalho, todos do meio do futebol sabem quem é Francisco Santiago. Eu sou um árbitro que possui essa conduta e leva as situações ao pé da letra, inclusive, por isso, não participo de jogos importantes que venham a fazer parte desses esquemas. Apito partidas consideradas secundárias. Já as condutas dos meus colegas, que também estão sendo investigados, não me dizem respeito. Cabe à polícia investigar.
Próximos passos
Eu só digo uma coisa: estou extremamente tranquilo e muito feliz em saber que temos uma ótima oportunidade para limpar a arbitragem paraibana.
Fonte: Globo Esporte PB - https://globoesporte.globo.com/pb/futebol/noticia/arbitro-admite-ter-reescrito-sumula-do-paraibano-mas-sem-alterar-o-conteudo.ghtml
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