Seedorf elogia Tite e diz que saída de Neymar do Barcelona “foi um pecado”
Técnico de Camarões, rival do amistoso de terça, holandês diz que seleção brasileira deu passo grande de 2014 para 2018: "Não foi nenhum escândalo perder para a Bélgica"
As principais atrações de Camarões no amistoso desta terça-feira contra a seleção brasileira estarão no banco de reservas. O técnico é Clarence Seedorf, icônico meio-campista de passagem marcante pelo Botafogo, momentos gloriosos na seleção holandesa, no Real Madrid, e especialmente no Milan. Seu auxiliar é o ex-atacante Patrick Kluivert, velho parceiro de campo.
No último domingo, Seedorf recebeu a reportagem do GloboEsporte.com no hotel onde Camarões está concentrada, em Milton Keynes, nos arredores de Londres. Num bate-papo rápido, o técnico disse que nenhum jogo será mais importante do que enfrentar o Brasil antes de sediar a Copa Africana de Nações, em 2019.
Seedorf também fez veementes elogios a Tite e lamentou a saída precoce de Neymar do Barcelona. Para ele, o atacante precisa de um técnico e um time que o ajudem a desenvolver todo seu talento.
É o que ele quer fazer com os camaroneses.
Confira a entrevista:
Que identidade ou estilo de jogo você pretende dar à seleção de Camarões? Pertence à escola africana, é algo mais europeizado?
– Temos sempre pouco tempo para trabalhar. São 10 dias com dois jogos, seis treinamentos. É muito pouco para implementar tudo que precisamos, para o time ter um entendimento mais profundo do que queremos. Seleção é a coisa mais difícil para treinador e jogadores. Acredito que a primeira coisa é criar uma coesão forte, e isso fazemos com pessoas justas, antes do talento.
Como você vê o talento de Camarões?
– Talento temos muito. Temos experiência, juventude, criatividade, força física, dinamismo. Temos três goleiros fantásticos. Mas estamos construindo o dia a dia, um grupo fora do campo, com uma base de filosofia e criando condições para que os jogadores possam mostrar isso. Especialmente no ataque, onde precisam se sentir livres. Assim como os brasileiros têm que ter liberdade para criar com a bola, mas nosso foco está em no momento de saber se defender como conjunto, e não cada um fazendo uma coisa diferente, como víamos no passado com equipes africanas.
Os africanos precisam ser mais disciplinados taticamente?
– Por causa de um resultado ou outro, acabavam indo só com o coração. Têm que se manter racionais e usar o coração quando for preciso. Esse grupo tem capacidade de fazer essa mescla. Muitos jogadores disputam a Liga Europa, alguns a Liga dos Campeões, há outros em times bons de campeonatos competitivos. Temos uma boa base para construir.
Como um amistoso contra o Brasil pode ajudar nessa construção?
– Fazer um jogo como esse contra o Brasil, um gigante para todos, vai nos dar uma experiência que não tem preço. Independentemente do resultado, do que vai acontecer, a emoção de cada um por jogar contra Neymar e grandes jogadores afirmados mundialmente. Será de importância enorme antes da Copa da África, não teremos nenhum jogo mais importante do que esse. Temos que acreditar e ser competitivos. Queremos fazer um bom jogo. Vamos tentar, com nossas armas, complicar a vida do Brasil. Respeitando, mas acreditando em nossas possibilidades.
“(Esse jogo) Será de importância enorme antes da Copa da África. Não teremos nenhum jogo mais importante do que esse”
Qual é a característica marcante da sua equipe?
– É dinâmica. Muito dinamismo. Temos muitos jogadores rápidos, fortes, ágeis, mas de boa técnica. Sempre vimos times africanos muito atléticos e técnicos, com imprevisibilidade. O que eu quero é usar isso bem, de maneira coordenada, organizada, para extrair as melhores características deles. O Ekambi, que joga no Villarreal, tem velocidade e aceleração incríveis. Você o vê e não dá cinco reais por ele, mas quando acelera é impressionante. Ele pode jogar pela direita, pela esquerda e atrás do centroavante. Procuramos não fazer com que jogadores atuem em outras posições, mas às vezes é preciso. Em todos os times que treinei, aproveitei o talento que havia. É preciso criar um sistema de jogo que use esse talento porque para ganhar jogos vamos depender desses caras.
O Brasil de Tite perdeu só dois de 31 jogos, mas um deles nas quartas de final da Copa do Mundo, e isso gerou reações fortes. Como vê a Seleção e o trabalho do Tite?
– É um trabalho muito bem feito. A Bélgica, para mim, foi o melhor time da Copa. Jogando futebol, com jogadores importantes dos melhores times da Europa. Não foi nenhum escândalo perder para a Bélgica. Antes do Tite ser técnico da Seleção eu já o achava ótimo. Ele mostrou capacidade de criar um time unido, em que um joga pelo outro. É normal que nem sempre vejamos o melhor desempenho, e também há um adversário e temos de respeitar. Mas se comparar ao Mundial de 2014, é óbvio que o Brasil deu um passo à frente muito grande. Precisa de um pouco de sorte, da boa forma de um ou outro jogador. A Alemanha voltou para casa na primeira fase. Outros times importantes nem chegaram, como Itália e Holanda.
“A Bélgica, para mim, foi o melhor time da Copa. Não foi nenhum escândalo perder para a Bélgica. Antes do Tite ser técnico da Seleção eu já o achava ótimo. Ele mostrou capacidade de criar um time unido, em que um joga pelo outro”
Então Tite precisa de mais tempo?
– Honestamente, acho o trabalho do Tite muito bom, e o Brasil tem de ter paciência. Joachim Löw está há 12 anos na Alemanha. Numa seleção, você tem 10 dias, não é com milagre que as coisas acontecem, é com tempo. Há bons jogadores e é preciso criar um sistema que todos entendam para que as coisas encaixem. Não sabemos quando vai acontecer, mas temos que continuar a construir. O Brasil faria bem de manter essa estrutura com esse treinador.
Em 2013, você foi muito sincero ao dizer que Ganso estava muito devagar para jogar na Europa. Com essa mesma sinceridade, o que acha que falta ao Neymar para subir mais um degrau e se colocar no mesmo patamar de Messi e Cristiano Ronaldo, dos melhores do mundo?
– Um treinador que dê a ele o que precisa. Ele ainda é jovem, não está há tanto tempo na Europa. Seu talento é indiscutível, ele já é considerado um dos melhores do mundo. Está claro que precisa de um time que o ajude a crescer e possa tirar seu melhor. Não vai fazer isso sozinho.
“Foi um pecado ele deixar o Barcelona tão rápido. Mais dois anos e seria diferente, mas seu caminho agora é o PSG. Ninguém joga sozinho hoje”
– O Barcelona não ganhou no ano passado com Messi. No Milan, tivemos um jogador tecnicamente muito normal, o Gattuso, mas com tantos jogadores importantes em volta ele cresceu de maneira impressionante. Acho que Neymar precisa jogar com jogadores melhores do que ele. Não tecnicamente, mas que já tenham feito coisas importantes, ganhado coisas, que possam falar coisas para ele, e ele respeitar. Não sei se isso está acontecendo agora, mas espero que sim porque ele nos dá muito prazer. É um dos jogadores que gostamos de ver jogar.
Fonte: GE - https://globoesporte.globo.com/futebol/selecao-brasileira/noticia/brasil-x-camaroes-seedorf-elogia-tite-e-diz-que-saida-de-neymar-do-barcelona-foi-um-pecado.ghtml
Leia mais notícias no www.diarioesportivo.com.br, siga nas redes sociais: Facebook, Twitter, Instagram e veja nossos vídeos no Play Diário. Envie informações à Redação pelo WhatsApp (83) 99157-2802.
Deixe seu comentário