30 anos depois, Romário ainda é rei na Holanda e destaque no museu do PSV
“Melhor da história e preguiçoso”, diz guia do tour pelo estádio do time de Eindhoven. GloboEsporte.com visita local e traz histórias e imagens raras do Baixinho por lá
Já se passaram 30 anos desde Romário chegou ao PSV Eindhoven, em 1988. Em cinco temporadas por lá, foram muitos gols, títulos, números históricos e uma irreverência peculiar, desempenho único que deixou marcas eternas. Até hoje, o Baixinho segue sendo rei da Holanda, o seu legado está em destaque no museu do clube, e sua fama atravessa gerações na pequena cidade holandesa onde brilhou.
“Melhor jogador da história do PSV e preguiçoso”. Entre vários elogios e histórias curiosas, esta foi a principal definição de Romário feita pelo guia do tour pelo estádio Philips e pelo museu do PSV, visita que a reportagem do Globoesporte.com fez na última semana. Nas instalações do clube, são diversas fotos, vídeos, camisas, matérias de jornal e homenagens ao ex-centroavante. Há ainda um espaço para eventos no clube chamado “Casa Romário”. Outros brasileiros que jogaram no time de Eindhoven também são lembrados por lá, principalmente o atacante Ronaldo, o goleiro Gomes e o zagueiro Alex, mas nada se compara à quantidade de menções a Romário.
Durante o tour no estádio, enquanto dava explicações sobre o clube para um grupo de turistas estrangeiros, o guia colocou um áudio com narrações de gols históricos e logo citou: “Este aí é um gol do Romário, o atacante brasileiro que jogou aqui no começo da carreira e até hoje foi o melhor jogador da história do PSV. Ele era preguiçoso, não gostava de treinar, mas jogava muito futebol, fazia muitos gols e resolvia os jogos. Dentro da área, ele era insuperável”.
Depois do passeio, em conversa com o Globoesporte.com e ao ficar sabendo que um jornalista brasileiro visitava o clube, o guia holandês Timo Klein falou um pouco mais sobre a genialidade do Baixinho. Tanto dos gols, quanto da preguiça.
– O PSV tem grandes ídolos na história como o Koeman, o Van Nistelrooy, o Van Bommel, o Van Beveren, o Cocu, o belga Luc Nilis e o próprio Ronaldo, mas o Romário é o maior de todos. Ele foi um jogador diferente, especial. Às vezes ele parecia desinteressado, mas de repente fazia os gols. Quando ele queria jogar, fazia gol de todo jeito e ganhava jogos sozinho. O problema é que não era sempre que ele queria jogar e muito menos treinar. Teve uma vez antes de um treinamento que ele estava trancado no quarto e não queria sair da cama de jeito nenhum, e o Twan Scheepers (atacante que foi o melhor amigo do Romário na equipe) ficava jogando pedrinhas pela janela para acordá-lo – contou o guia, aos risos.
Em um documentário holandês sobre Romário chamado “Samba in Eindhoven”, o ex-atacante Scheepers contou o trabalho que o brasileiro dava fora de campo para os técnicos Guus Hiddink e depois Bobby Robson, com frequentes viagens ao Brasil, por exemplo. Mas resumiu bem como funcionavam as coisas e como o elenco gostava dele: “Se ele não vem treinar a semana inteira, mas ganha o jogo para nós, eu recebo o bicho do mesmo jeito”.
Uma das fotos que está atualmente em destaque no museu do PSV é de uma atuação memorável de Romário, considerada a melhor de todas pelo clube. Em outubro de 1989, pelas oitavas de final da Champions League, depois de perder por 1 a 0 na Romênia para o Steaua Bucareste, o time holandês sofreu um gol em casa e precisava vencer por dois gols de diferença para avançar. Então, o atacante brasileiro resolveu a situação, marcou três gols e o PSV ganhou por 5 a 1.
Desde quando deixou o Vasco e chegou a Eindhoven com 22 anos, em 1988, até quando saiu para o Barcelona em 1993, Romário fez 129 gols em 145 jogos, tendo sido artilheiro do Holandês três vezes e da Champions League duas vezes. Neste tempo, ele conquistou três títulos do Campeonato Holandês e foi campeão duas vezes da Copa da Holanda, fazendo o PSV superar o rival Ajax neste período.
“O Romário, sem dúvida, é o maior ídolo em Eindhoven. O Ronaldo também é bastante lembrado, mas o Romário tem uma importância maior, todos falam nele “, Mauro Junior.
O excelente desempenho de Romário por lá três décadas atrás inspira atletas e fãs até hoje. Em conversas com torcedores nas ruas de Eindhoven, mesmo quem é mais novo e não viu o Baixinho jogar faz questão de idolatrá-lo. E o PSV mantém a tradição de contratar jovens brasileiros. Desde 2017 no clube, o meia-atacante Mauro Júnior, de 19 anos, revelado pelo Desportivo Brasil, tenta seguir os passos do craque e está no elenco atual que faz um início de temporada 2018/2019 histórico, com 12 vitórias em 12 rodadas disputadas até agora no Campeonato Holandês.
– O Romário, sem dúvida, é o maior ídolo em Eindhoven. O Ronaldo também é bastante lembrado, mas o Romário tem uma importância maior, todos falam nele. No estádio tem várias fotos dele, homenagens. Já vi muitos vídeos e escutei histórias dele. Lembro de uma resenha que o Romário passou uma noite inteira sem dormir e no outro dia chegou no jogo e meteu dois gols – disse Mauro Júnior.
O restaurante preferido e as noitadas
Romário nunca escondeu de ninguém que gostava de sair à noite, mas as festas e noitadas não eram o único divertimento. Sem tanto assédio nas ruas da pequena Eindhoven, a quinta maior cidade da Holanda com população de pouco mais de 200 mil habitantes, ele também era visto frequentemente em restaurantes e bares. O lugar preferido do Baixinho era o restaurante espanhol “El Patio Andaluz”, local que ele costumava ir para bater um papo e comer as tradicionais tapas.
– O Romário frequenta o nosso restaurante até hoje sempre que vem à cidade. Ano passado mesmo ele veio aqui. Criamos uma certa amizade. Apesar da fama, ele sempre foi muito simpático, sempre se mostrou uma pessoa humilde. Em um país frio com a Holanda, com costumes diferentes, os latinos acabam se juntando, e o Romário fez amigos espanhóis também. Além de ter sido um dos melhores jogadores do mundo, o Romário era o rei da noite, saímos juntos muitas vezes aqui em Eindhoven – contou o espanhol Gilberto Rodríguez, proprietário do restaurante.
Nas paredes do “El Patio Andaluz” estão expostas várias camisas de jogadores de futebol, incluindo uma do Flamengo e uma da seleção brasileira da época do tetracampeonato mundial em 1994. Foram presentes dados por Romário e estão devidamente autografadas. Também há um mural com fotos do ex-centroavante bem mais novo, em que ele aparece brindando um copo de bebida com Gilberto. Apesar das mordomias que tinha no PSV, do salário milionário e de morar em uma casa imensa, ele sempre deu valor a pequenas coisas e fez boas relações.
Na conversa, o dono do restaurante predileto de Romário também mostrou em seu celular uma foto que tirou junto com o brasileiro na visita dele a Eindhoven em 2017, se interessou por mais informações da atual carreira política do ex-jogador e relembrou histórias do passado.
– Algumas vezes o Romário falava por telefone com jogadores que estavam em outros países aqui da Europa, e de uma hora pra outra pegava o carro ou o avião e ia à noite pra outro lugar. Ele sempre chamava os amigos daqui pra ir junto e viver um pouco daquela vida e nunca deixava ninguém pagar a conta.
A boa relação do PSV com os brasileiros
Romário é o principal destaque, mas outros jogadores brasileiros que atuaram no PSV também são lembrados no museu do clube, principalmente Ronaldo Fenômeno, o goleiro Gomes, que foi tetracampeão holandês, e o zagueiro Alex, que conquistou três Campeonatos Holandeses. Ainda há fotos de Vampeta, e pôsteres anuais de equipes que contaram por exemplo com o goleiro Cássio e o atacante Marcelo Ramos.
Logo na entrada do museu, está um grande painel com fotos em tamanho real de Romário, Ronaldo e Gomes, as medidas da altura de cada um deles e a seguinte frase: “Quão grande é o seu jogador favorito?” (veja abaixo).
Ronaldo chegou a Eindhoven em 1994, quando ainda tinha 17 anos, e marcou 54 gols em 57 partidas disputadas em dois anos, antes de se transferir para o Barcelona. O jovem atacante foi artilheiro do Holandês na primeira temporada e encantou o mundo, mas teve que desfazer uma impressão inicial equivocada no clube.
– No primeiro treino do Ronaldo aqui ele não foi muito bem. O movimento das pernas dele não parecia certo, e a bola sempre ia pro lado errado. Mas foi só a primeira impressão mesmo, porque depois tudo correu bem, ele fez muitos gols e se transformou no jogador espetacular que todo mundo conhece. Mas eu gostaria de dizer que nós aqui no PSV gostamos muito dos brasileiros e dos sul-americanos em geral. Romário, Ronaldo, Gomes, Alex, Vampeta, são vários que jogaram aqui, fizeram sucesso e todos no clube gostam – disse Timo Klein, o guia do tour pelo estádio Philips.
O museu do PSV conta com objetos históricos e troféus importantes do clube, como o da Champions League de 1987/1988 e da Copa da Uefa de 1977/1978. O ingresso custa 7,50 euros (R$ 32) apenas para o museu, ou 16,50 euros (R$ 71) se incluir também o tour guiado pelo estádio, que dura cerca de uma hora e leva o visitante aos vestiários, banco de reservas, camarotes e outros setores.
Fonte: GE - https://globoesporte.globo.com/futebol/futebol-internacional/noticia/30-anos-depois-romario-ainda-e-rei-na-holanda-e-destaque-no-museu-do-psv.ghtml
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