Psicólogo esportivo afirma que pandemia deixa atletas mais ansiosos
Paulo Ribeiro: “O atleta é um ser humano como outro qualquer”
A pandemia do novo coronavírus (covid-19) está forçando a sociedade a mudar em várias áreas. No esporte de alto rendimento não é diferente: atletas, dirigentes e torcedores procuram formas de lidar com esta nova realidade. Mas mesmo com este esforço, a instabilidade leva a consequências emocionais.
Um relatório divulgado pela Federação Internacional de Jogadores de Futebol (FIFPro) no final de abril indica que jogadores profissionais de futebol enfrentam uma ansiedade crescente diante do contexto de isolamento social e incerteza.
“De repente, no futebol, jovens atletas de ambos os sexos enfrentam isolamento social, suspensão da vida profissional e dúvidas sobre o futuro. Alguns podem não estar bem equipados para enfrentar essas mudanças, e os incentivamos a procurar ajuda de uma pessoa em quem confiam ou de um profissional de saúde mental”, afirma o médico chefe da FIFPro, Vincent Gouttebarge.
Opinião semelhante tem o psicólogo da equipe de futebol profissional do Botafogo, Paulo Ribeiro, que, em entrevista exclusiva à Agência Brasil, afirma que “no imaginário de muitas pessoas os atletas são mitos, e nada acontece a eles (…). Essa não é uma realidade. O atleta é um ser humano como outro qualquer” e também sofre com o atual momento
Que transtornos emocionais o isolamento social traz a atletas de alto rendimento?
Paulo Ribeiro: Ao falarmos em transtorno emocional, precisamos ter em mente que pode existir um histórico no atleta. As causas dos transtornos emocionais são múltiplas. Então precisamos pensar em genética, em história pessoal e em ambiente. A pessoa já precisa ter uma disposição prévia para ter um transtorno. Mas o atleta também pode desenvolver o transtorno a partir de eventos traumáticos, que se sucedem na vida dele, o que não é o caso no atual momento de pandemia para uma pessoa que não tem predisposição. O que pode acontecer é um nível de ansiedade um pouco maior, um nível de ociosidade um pouco maior, uma dificuldade de se adaptar a determinadas situações às quais não estava habituado. Pode ter um nível de ansiedade, um certo nível de humor deprimido, que não chega a ser uma depressão, mas tudo vai depender de como ele lida com a adaptação a esse novo cenário. Se ele tem o acompanhamento de uma equipe técnica boa. Isso se torna mais fácil de lidar.
E como amenizar possíveis transtornos?
Ribeiro: Uma rotina minimamente desenvolvida de exercícios é fundamental para conseguir se sentir vivo, pois o atleta vive de seu corpo e de sua mente. O que o corpo produz é o material de trabalho do atleta. Essa rotina é muito importante. E pensando em rotina, e considerando um possível aumento do nível de ansiedade, é importante considerar uma questão. Quando se fala em rotina, nem sempre se considera que ficar um dia sem fazer nada é importante, que o ócio é importante, que vivenciar coisas diferentes [como brincar com os filhos, ensinar o filho o dever da escola, fazer atividades que em tempos sem pandemia não teria a oportunidade de fazer] é importante também. São novidades positivas que podem ser incluídas na rotina. Não é apenas de atividade física que o atleta viverá no momento que passamos.
Que preocupações você percebe entre os atletas profissionais no momento atual?
Ribeiro: No grupo com o qual trabalho observo um nível de ansiedade um pouco maior para terem segurança num possível retorno, uma grande preocupação com o que está por vir. Muitos atletas questionam a posição de um possível retorno do futebol de qualquer forma. Então existe uma preocupação com a qualidade do que se vai desenvolver e como vai se desenvolver. Estou protegido? Se sair daqui e encontrar com a minha família estará tudo bem? Não vou contaminar ninguém na minha casa? Essa preocupação, que é salutar, existe. No imaginário das pessoas os atletas são mitos, e nada acontece a eles. Isso não é uma realidade. O atleta é um ser humano como outro qualquer.
No debate sobre um possível retorno do esporte de alto rendimento em meio à pandemia há quem defenda esta posição afirmando que esta medida beneficiaria o público. Como você avalia esta fala?
Ribeiro: Não sei quem inventou a história de que o retorno das competições trará benefício emocional ao público. Como pode um jogo que envolva 20, 30, 40 mil pessoas em meio a uma pandemia, com o risco de quem está ao seu lado contaminar você, e vice e versa, trazer algum benefício emocional? Claro que não é válida essa proposta. Benefício emocional zero. Só podemos voltar quando tivermos as condições mínimas de segurança.
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