Adriano revela ter tido sete carros na garagem e diz: "Tenho que aprender a ter vida de atleta"
Atacante do Fla admite excessos, lembra que chegou a ter sete carros na garagem e diz: Tenho que aprender a ter vida de atleta para voltar a jogar
A história do menino pobre que nasceu na favela da Vila Cruzeiro e ganhou o mundo com a bola nos pés é conhecida. A perna esquerda escrevia certo, mas a cabeça desenhava linhas tortas. Adriano ganhou dinheiro, mas não estava preparado para a mudança de plebeu para Imperador. Na Itália, guardava sete carrões na garagem. Hoje, ele tira o pé do acelerador e pergunta: “pra quê?”. A morte do pai Almir, em 2004, abalou de vez a estrutura emocional e psicológica do jogador. Entre altos, baixos, gols e polêmicas, Adriano está de volta ao Flamengo. De peito aberto, com a cara para bater e sem dribles. Durante 35 minutos, entre risadas, semblante sério e declarações fortes, ele assume seus vacilos, admite erros e tenta reescrever o roteiro para um final feliz.
– Adriano é um jogador de futebol que tem a personalidade muito forte, não esquento com o que falam de mim. Se tiver que ir ao pagode eu vou, se tiver que ir à minha comunidade eu vou, se tiver que beber minha cerveja, eu bebo. Não tenho o que mentir. Sou um ser humano, igual a todo mundo, trabalho. Qual a pessoa que não tem um dia que possa tomar uma cervejinha, fazer um churrasquinho com os amigos, seja onde for, na favela ou na Barra, em qualquer lugar? Qual a pessoa que não passa por isso? Mas quando o Adriano faz… Todo jogador faz, e todo mundo sabe disso. Isso que fico chateado. Todo mundo sabe os podres de todos os jogadores, mas só pegam uns dois para falar. Quem não vai pra noite? Quem não vai pro pagode? Não tem um. Mas quando vai Adriano, quando vai Ronaldinho, aí… é um prato cheio – desabafou o atacante.
Sem rodeios, Adriano diz que “suas vaciladas” foram responsáveis por deixá-lo fora da Copa do Mundo de 2010. Ele tem na manga sua última cartada, sem direito a blefe. Por isso, pede paciência na sua luta para voltar aos gramados:
– As pessoas têm dúvida do que ainda posso fazer, lógico que têm. Tem que ter paciência, é claro. Vou ser bem sincero como sempre sou, não escondo nada de ninguém. Sei que meu ano vai ser a partir do ano que vem. Agora, será de retomada, preparação.
Adriano lembra os momentos mais complicados da carreira, esclarece que em 2009, quando deixou o Internazionale de Milão, abriu mão de uma fortuna em troca de felicidade, que para o jogador não está associada ao dinheiro.
– Quando larguei o Inter ganhava sete milhões de euros por ano (R$ 16,1 milhões). Você tem noção do que é isso? Larguei, e sabe por quê? Pelo meu bem-estar. Alguém citou isso? Não. Ah, o cara é maluco. Não sou maluco. Maluco, sim, de rasgar dinheiro. Mas dinheiro não traz felicidade. Dinheiro, às vezes, mexe muito com a cabeça. E teve um período que mexeu comigo. Tinha seis, sete carros na garagem na Itália. Ferrari, Porsche… Tinha necessidade? Ia rodar com seis carros ao mesmo tempo? Não ia. Isso mexe com você, poder, é difícil lidar. Isso mexeu comigo. Quando meu pai morreu, tentei estruturar. Quando ele sumiu da minha vida me abalou muito.
Adriano foi à lona, mas se reergueu para mais um round da luta contra si próprio. Depois dos nocautes, ele admite que é preciso ter uma mudança radical de hábitos para voltar – ou ainda ser – jogador de futebol.
– É minha última chance, se errar, vou falar com a minha família e amigos: “Gente, parei, acabou.”
Quando Ronaldinho Gaúcho deixou o Flamengo, no fim de maio, o Imperador pensou:
– Ficou disponível a camisa 10. Aí eu falei: “Pô, será que isso é destino de Deus”?
Expressões e detalhes de Adriano durante a entrevista (Foto: Janir Junior/Globoesporte.com)
Confira na íntegra a entrevista com Adriano:
GLOBOESPORTE.COM: Passado o momento da sua apresentação no Flamengo, como foram os primeiros dias de trabalho? Qual a sensação de voltar?
Adriano: Estou conseguindo viver novamente o que vivia há um tempo. Só depende de mim. Hoje vejo minha felicidade de poder treinar. Lógico que está muito cedo para falar isso. Mas ter essa responsabilidade de jogador, acordar cedo, ter o compromisso que vai fazer bem para mim. Eu me sinto muito bem, superfeliz, fazendo os treinamentos com um sorriso no rosto, todo mundo está vendo isso. Sei que para mim é uma oportunidade de mostrar, não para todo mundo, mas para mim mesmo, para minha família, que posso superar a dificuldade que passei. As coisas estão andando conforme nós planejamos. Está dando tudo certo.
Nos últimos dois anos, você passou por muita coisa, não jogou com a frequência que gostaria (foram apenas 16 jogos). Muito se questiona se vale a pena o investimento no Adriano. O Zinho disse que sim, Dorival também. Você contrataria o Adriano?
Acho que sim. Muitas vezes não entendo por que as pessoas levam por esse lado. Todo mundo fala: “o Adriano não é de grupo”. O Adriano só faz mal para ele mesmo. As coisas que fiz de errado quem é cobrado sou só eu, não o grupo. Pode ir em todos os clubes que participei, perguntar para todos os jogadores, para as pessoas que me acompanharam, e vão dizer quem é o Adriano realmente. É muito fácil julgar uma pessoa sem saber. Dentro de campo sempre fiz o meu papel. Hoje, a minha realidade é que há dois anos venho de contusões, então as pessoas têm dúvida do que ainda posso fazer, lógico que têm. Tem que ter paciência, é claro. Vou ser bem sincero como sempre sou, não escondo nada de ninguém. Sei que meu ano vai ser a partir do ano que vem. Agora, será de retomada, preparação. Todo mundo quando vê o Adriano dentro de campo tem que dar 100%. Mas hoje tenho a capacidade de pensar que o Adriano vai subir degrau por degrau. O que mais quero é voltar o mais rápido possível, mas isso leva um tempo. Que o Adriano de verdade possa vir no final do ano, ou no ano que vem. Peço que tenham paciência. Tem dois anos que não tenho sequência de jogos, com contusões. Também errei nesse período. Eu também tenho que ter paciência para buscar meus objetivos. Ter a capacidade de entender o trabalho que vai ser mais forte. É chato? É. Tendão é uma operação que não é fácil, é complicada. Difícil para o jogador ter paciência de fazer tudo duas vezes. E eu passei por isso, fiquei triste. Sou uma pessoa muito emotiva.
"Eu fiz a escolha errada, não que seja o Roma, de voltar à Itália. Se tivesse ficado aqui, poderia ter dado mais certo". Adriano
E como fez para superar?
Quando acontece alguma coisa comigo, me escondo, até da minha família. Não consigo passar para as pessoas os meus problemas. Às vezes, esse é o meu grande mal. Sou uma pessoa que não sou de falar muito. Eu fiquei em dúvida nesse tempo em que fiquei parado. Conversei muito com a minha família, amigos: “Pô, não sei o que faço.” Sei que se voltar terei que fazer sacrifício, vou ter que estar disposto a fazer isso, o sacrifício que será. Sei que é o começo, mas estou feliz. Gosto de estar nesse ambiente, de jogadores, todos me conhecem muito bem.
Logo que chegou ao Corinthians, você teve a lesão no tendão de Aquiles do pé esquerdo e operou. Quando já estava desvinculado do clube, passou por cirurgia no local. Por que agora se sente mais pronto para enfrentar o desafio da recuperação e jogar em alto nível? No Corinthians, teve uma série de problemas, não cumpriu o tratamento à risca…? O que aconteceu ali que não vai mais repetir?
Na verdade, eu vim do Roma já com uma contusão no ombro (direito), o Corinthians já me contratou com essa contusão. Fiquei quatro, cinco meses parado antes de assinar com o Corinthians. Estava em Roma, pedi para a presidente me liberar, eu estava me machucando muito, não estava sentindo bem. Como falei, sou emotivo. Quando acontece muita coisa comigo eu prefiro resolver na conversa para que me liberem para onde eu queira ir. Cheguei e aconteceu o episódio (lesão no tendão de Aquiles do pé esquerdo). Isso me abalou muito, fiquei muito triste. Não é desculpa, sou um ser humano. Operei de novo e pensei: “Poxa vida, agora vou ter que ficar seis, sete meses parado, já passei quatro.” Nesse começo foi muito mais difícil de aceitar isso, não dava para entender o porquê. Contusão você não tem como saber. Foi um momento difícil, o Corinthians entendeu isso. Queria logo jogar, não aguentava mais ficar parado. Ali foi uma coisa atrás da outra. Essa operação agora eu quis fazer com o doutor Runco, senão não faria, ia retomar o trabalho de novo para tentar pegar a força no tendão, na panturrilha, só que demoraria mais tempo. Então, eu decidi operar para voltar a jogar mais rápido. Hoje, me sinto mais à vontade, pois foi uma escolha minha de operar e voltar. Sinto mais responsabilidade, vou ter o tempo de recuperação. Não sabia se queria voltar a jogar ou não, era uma opção que eu tinha. Hoje decidi que vou lutar, tenho 30 anos, tenho muito a dar ainda, posso conquistar muitas coisas. Eu me reanimei para tentar conquistar aquilo que eu quero.
Adriano beija o escudo do Flamengo em sua
apresentação (Foto: Alexandre Vidal / Fla Imagem)
O fato de ser no Flamengo te deu mais vontade de tentar? Se o clube fechasse as portas para você poderia desistir de jogar futebol?
Não sei. O Flamengo, claro, me dá uma motivação a mais, pela nação, pelo clube. Fui criado aqui, pelo carinho dos torcedores, isso acaba te dando um apoio na sua vida. Tive propostas para fora… Mas… de novo, não! Não quero, só vou voltar para o Flamengo, só quero voltar para o Flamengo e acabou. O grande motivo foi o Flamengo, aqui me sinto em casa, estou perto da minha família, dos meus filhos, isso me fortalece ainda mais.
Quando viu que o Flamengo estava buscando um camisa 10, isso de alguma forma mexeu contigo?
Com certeza. Estava conversando com um amigo meu, que é o Luquinha, com a minha família. Logo que saí do Corinthians fiquei bastante abalado por todos os problemas. Logo depois o Ronaldinho foi embora e ficou disponível a camisa 10. Aí eu falei: "Pô, será que isso é destino de Deus?" Não sei. Pô, tudo vai acontecer na hora certa. Era para acontecer, graças a Deus aconteceu. Agora só depende de mim seguir as coisas direitinho. Vai dar tudo certo.
Até 2006 você tem número impressionante de gols, de partidas disputadas por temporada, estava no auge da forma física, era titular da seleção brasileira, fazia um gol a cada dois jogos na Itália. Tinha 180 jogos, 91 gols. Depois, com a derrota na Copa, sua carreira entrou em altos e baixos. O que acha que pode ter acontecido?
Depois da Copa do Mundo, acho que todo jogador passa por uma má fase. Logo depois, tive a perda do meu pai. Não estou colocando desculpa, mas me abalou bastante. Ali deixei de ser o Adriano que era antes. Mas depois passei por momentos bons, voltei a ter momentos ruins. É difícil explicar. Consegui ter um nome muito rápido, fui para a Itália muito novo. Consegui conquistar nome. Isso me transformou numa pessoa diferente. Diferente do Adriano da favela, que não tinha nome, que tinha que ralar… Eu conquistei muito rápido as coisas, para um menino que não tem nada depois tem o mundo… É difícil controlar. Tenho minha família, que estava presente, mas estava longe. Eu nunca tive uma esposa, tenho dois filhos com a Daniele, mãe dos meus filhos. Ficamos dois anos juntos, depois nos separamos, também nesse meio tempo. A pressão foi muito grande para mim no começo. Talvez se viesse um pouco depois, eu estaria com outra cabeça, e não cabeça de fazer certas coisas que não me fariam bem. Querendo ou não, dinheiro mexe um pouco com a cabeça. Não tenha dúvida. Isso acontece com todo mundo. Hoje sou muito centrado nisso, converso com minha família. Gosto de andar na minha comunidade, como todo mundo sabe, isso não é novidade, me faz sentir humano, me faz sentir pessoa de verdade. Não que eu esteja fora da comunidade e não me sinta. Mais para ver a realidade, pessoas que precisam de pouco e estão felizes. Isso é bom pra gente, é bom aprender: “Pô, tá vendo, a gente reclama pra caramba e tem uma pessoa que precisa só disso aqui. Tá rindo, se divertindo, isso me faz bem.” Isso que foi a grande culpa, não sei, que me atrapalhou um pouco. Não que o sucesso seja ruim, sucesso é sempre bom. Mas eu não soube me estruturar para esse momento.
"Tenho que provar que estou disposto a mudar para fazer o que todo mundo sabe que eu sei fazer. E só depende de mim." Adriano
Em 2009, você teve um ano bom, foi campeão brasileiro, artilheiro. Parecia a retomada do Adriano, voltando para a Seleção pelo Dunga e Jorginho, mas não foi convocado para a Copa da África do Sul no ano seguinte. Isso mexeu muito contigo?
Óbvio, fiquei triste, mas eu meio que esperava, dei umas vaciladas. Mantive contato sempre com Jorginho e Dunga, a gente sempre se falava. Mas dei umas vaciladas em 2010 também, sei disso. Pensava: “Se for convocado, graças a Deus. Se não for, o culpado sou eu.”.Tenho consciência disso. Não fiquei triste com Dunga, com Jorginho. Foi uma coisa que aconteceu. Me abalou? Claro. Quem não quer disputar uma Copa do Mundo? Seria minha segunda. Mas, enfim, as coisas aconteceram, foi dessa maneira, bola pra frente. Vou tentar recuperar meu espaço no Flamengo, tentar fazer tudo direitinho para quem sabe voltar à Seleção.
O futebol ainda te dá prazer?
Dá, dá. Quando falo que quero dar um tempo, como foi quando saí do Inter de Milão em 2009, não era porque não estava mais a fim de jogar futebol. Na minha cabeça, não estava bem. Se assinasse com um clube não ia dar meu máximo. Saí do Inter como titular, estava jogando com o Mourinho. Não saí mal. Mas já não estava bem de cabeça. Falei que ia dar um tempo, não que ia parar de jogar. Ia dar um tempo para mim, colocar a cabeça no lugar. Para ter compromisso com o clube você tem que cumprir tudo direitinho. Preferi dar um tempo, retomar minhas energias, ficar com a família, com os meus amigos, me divertir também. Ali comecei a sentir falta – isso que estava precisando -, sentir falta do meio, de jogar. Retomei em 2009 e deu tudo certo. Agora, esse tempinho que fiquei parado também me serviu muito. Já não gosto de ver futebol porque fico agoniado. “Meu Deus do céu, na frente do gol o atacante…” Isso me deu vontade de retornar, ainda mais no Flamengo.
Arrependeu-se de ter saído do Flamengo em 2010?
Adriano no Roma: passagem muito apagada
(Foto: agência AFP)
É complicado falar. Na Itália, os italianos de todo o país sempre me amaram muito… Quando saí do Inter ficou uma mágoa. Então tive oportunidade de voltar foi para tentar apagar essa mágoa em 2010. Mas eu fiz a escolha errada, não que seja o Roma, foi a decisão de voltar à Itália. Tive uma série de contusões, dois anos seguidos. Se tivesse ficado aqui poderia ter dado mais certo.
Há muitas opiniões de que o Adriano já era, de que não vai jogar mais futebol, de que é contratar um problema. Mas, ao mesmo tempo, o torcedor te adora, grande parte aprova o retorno. Por que acha que acontece isso?
Acho que é da minha maneira de ser, minha simplicidade. Na rua, falo com todo mundo, brinco com todo mundo, da pessoa mais rica à mais pobre. Dá para perceber isso em mim. Você pode ser duas pessoas? Sou a mesma pessoa. Tenho que mudar alguns hábitos da minha vida, sei muito bem disso. Essa transparência que passo quando dou entrevista. Não adianta mentir. Se eu mentir, amanhã vou na rua, vou fazer aí “tá vendo?!”. É mais fácil a verdade, isso que o povo quer. Não adianta ser jogador aqui, sou isso, sou aquilo, mas fora… Não estou julgando ninguém, só dando um exemplo. O carinho das pessoas por mim é pela simplicidade, o jeito que eu falo, como trato todo mundo. Isso me fortaleceu também. Saí do Corinthians com o pessoal falando “vamos lá”… Torcedores do Vasco, Fluminense, Botafogo. Isso fortalece e faz bem. Não tenho raiva dos formadores de opinião. Também posso ter uma grande culpa nisso. Se hoje falam que “não tem mais volta”, tudo bem, aceito. Mas estou aqui, vou tentar, não vou parar. Se lá na frente Deus me abençoar e der tudo certo… Deu tudo certo. Estou tranquilo, feliz de vestir a camisa do Flamengo de novo. Vai ser mais uma batalha para retribuir ao povo que gosta de mim.
Não tem rancor?
Seria pior. Quando você guarda mágoa de uma pessoa acaba ficando mal. Sou um ser humano, fico chateado com algumas coisas. Se eu vir a pessoa, eu vou apertar a mão. Meu pai me ensinou: se trata o mal com o bem. Não tenho que mostrar nada para ninguém em termos de futebol, nada pra ninguém. Tenho que mostrar o quê? As coisas que fiz erradas. Tenho que provar que estou disposto a mudar para fazer o que todo mundo sabe que eu sei fazer. E só depende de mim.
É difícil mudar os hábitos?
Não é difícil, mas quando você acostuma fazer certas coisas… acaba fazendo direto, vira meio que um vício. Você tem que ser muito forte, “não vou fazer mais isso”, tem que centrar. É minha última chance, se errar, vou falar com a minha família e amigos: “Gente, parei, acabou.” Tenho que aprender a ter uma vida normal de atleta para que possa voltar. Não vou mentir. No dia que puder fazer, na minha folga, ninguém é de ferro. Quando pode, não faz mal a ninguém. Mas tenho que ter essa regra para mim.
Todo mundo fala do seu peso. Qual a real situação?
Adriano treina forte na praia da Barra
(Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)
Quando eu falo que em 2009 eu estava com 107, 108 quilos, ninguém acredita. Mas eu estava. Fazia gol, corria para caramba, então ninguém aqui… (faz gesto de engolir e calar a boca). Hoje, meu problema é físico. Quando pegar minha forma, o peso vai diminuir automaticamente, as coisas vão andar. Não adianta falar: “Adriano tá pesado, tá gordo.” Hoje o que vende é notícia ruim, notícia boa não vende. Ainda mais do Adriano. Estou acostumado, meu peso vai baixar com trabalho. Não tive sequência de treinamentos. Vou falar agora que não estou pesado, que estou acima do peso? Estou, e qual a diferença? Estou trabalhando, você acha que esse peso não vai baixar com treinamento? Tenho 30 anos, meu peso não vai ser como quando eu tinha 22, 23 anos. Óbvio que tenho que baixar para o meu peso ideal para desenvolver meu trabalho. Isso todo mundo sabe. Estou ansioso para voltar a jogar, é uma luta, fortalecer o tendão não é fácil.
Afinal, quem é o Adriano?
Adriano é um jogador de futebol que tem a personalidade muito forte, não esquento do que falam de mim. Se tiver que ir ao pagode eu vou, se tiver que ir na minha comunidade eu vou, se tiver que beber minha cerveja, eu bebo. Não tenho o que mentir. Sou um ser humano, igual a todo mundo, trabalho. Qual a pessoa que não tem um dia que possa tomar uma cervejinha, fazer um churrasquinho com os amigos, seja onde for, na favela ou na Barra, em qualquer lugar? Qual a pessoa que não passa por isso? Mas quando o Adriano faz… Todo jogador faz, e todo mundo sabe disso. Isso que fico chateado. Todo mundo sabe os podres de todos os jogadores, mas só pegam uns dois para falar. Quem não vai pra noite? Quem não vai pro pagode? Não tem um. Mas quando vai Adriano, quando vai Ronaldinho, aí… é um prato cheio.
Você falou que em alguns momentos da sua carreira ficou abalado, sentiu o golpe. Nunca procurou ajuda, psicólogo? Pensa em procurar agora? Ou pode resolver sozinho?
Hoje eu não preciso, com certeza. Precisava quando passei aquela depressão que falei pra todo mundo o meu problema (com bebida alcoólica), ali eu tive (ajuda). No São Paulo, eu tive psicólogo. Em 2009, cheguei a fazer quatro, cinco sessões com um psicólogo. Hoje, não tenho mais necessidade, sinto isso. Se precisar, vou comunicar ao Flamengo, tenho idade bastante para saber quando estou precisando ou não. Mas hoje estou feliz. Se der uma escorregada, aí, sim. Opa: “Zinho, tô precisando disso, disso, disso.”
Você sentiu a pressão de sair da favela, de virar ‘o cara’ e, logo depois, sofrer a morte do seu pai, que segurava tudo. Foi a pancada mais forte que levou?
Foi. Meu pai sempre foi um cara que estava junto comigo. Depois de tanto carregar esse peso comigo, ele não aguentou, meio que desandou um pouco. Normal. Um cara que nunca teve nada, trabalhava para ganhar R$ 200, R$ 300, para sustentar a mim e minha mãe. Depois de tentar me controlar… Teve uma hora que… Tum!… Isso é normal. É difícil um cara que tem muito, para caramba, depois perder. Porque esse cara não teve a vida sofrida como eu tive. Para mim, é mais fácil chegar lá em cima e depois voltar… Aqui embaixo já sei como é. Quem está lá em cima para descer não sabe a vida como é. Para quem teve tudo e desce, ou se mata, ou tem uma depressão ou uma série de doenças. Hoje estou aqui no meio, se abaixar, sei onde pisar, a maneira de viver… São coisas difíceis de lidar, é muita coisa. Quando larguei o Inter, ganhava 7 milhões de euros por ano. Você tem noção do que é isso? Larguei, e sabe por quê? Pelo meu bem-estar. Alguém citou isso? Não. Ah, o cara é maluco. Não sou maluco. Maluco, sim, de rasgar dinheiro. Mas dinheiro não traz felicidade. Queria viver o Adriano como pessoa. Larguei, porque o presidente não deixaria ir embora. Ele me liberou. Por isso, dei um tempo. Dinheiro, às vezes, mexe muito com a cabeça. E teve um período que mexeu comigo. Tinha seis, sete carros na garagem na Itália. Ferrari, Porsche… Tinha. Tinha necessidade? Ia rodar com seis carros ao mesmo tempo? Não ia. Isso mexe com você, poder, é difícil lidar. Isso mexeu comigo. Quando meu pai morreu, tentei estruturar. Quando ele sumiu da minha vida me abalou muito.
(Atualmente, Adriano tem dois automóveis: um BMW 575 e um Porsche Cayenne)
Como pai, o que tenta passar para os seus filhos?
Tem que viver a vida na simplicidade, eles têm que conquistar o que querem, são pequenos para entender, mas vamos colocando no caminho certo. Não é sempre que eles querem uma coisa e eu compro. Me dói o coração, mas não é assim. Tem criancinha que não tem dinheiro para comprar uma meia… e se der uma meia para eles, não ficam felizes. Então, não tem que acostumar mal. Minha mãe nunca teve condições de comprar muita coisa para mim. Hoje, tenho minha condição, sei que meu irmão (Thiago) quer um videogame… e minha mãe fala: “Adriano, não compra muita coisa pra ele não.” Mas eu compro. Sabe mãe como é? Sei que ela está certa, mas hoje posso dar. Estou dando uma coisa que não poderia ter, não porque minha mãe não queria, mas porque não podia. Hoje, posso dar tudo, mas com limite. Tem que saber dosar. Com meus filhos vai ser da mesma forma.
GLOBO ESPORTE
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