"Fina Estampa" romantiza MMA, falha na encenação e tem final à la Rocky Balboa

Wallace Mu comemora ao conquistar o título mundial de MMA – Foto: Reprodução de TV/Globo

Final feliz é tudo que se espera de um último capítulo de novela. Disso, os lutadores de MMA de “Fina Estampa” não têm do que reclamar. Wallace Mu (Dudu Azevedo) reconquistou o título mundial, enquanto Leandro Surfista (Rodrigo Simas) estreou com vitória no octógono. Se a trama teve como mérito levar o esporte para o horário nobre, o capítulo final pecou ao romantizar os diálogos, falhar nas encenações e usar e abusar do clichê Rocky Balboa.

Leandro Surfista comemora ao vencer sua luta de estreia no MMA – Foto: Reprodução de TV/Globo

Mocinho x bandido

O destino dos lutadores, na verdade, começou a ser traçado no penúltimo capítulo, com a definição da história de Leandro Surfista. Antes da estreia no octógono, um discurso desnecessário alçou o rapaz ao status de mocinho, enquanto seu rival, Marcos Pantera (o nome do ator não foi divulgado), se tornou o bandido. “Você vai acabar com o Marcos Pantera, tu vai ver só, esse mané não é páreo pra tu não”, disse o irmão de Leandro, Leonardo dos Anjos (Vitor Lucas), antes de ser interrompido pelo aspirante a campeão: “Ôôôôôôô, tem que respeitar o adversário, mérmão, tem que respeitar o adversário.”

Já no octógono, Pantera se negou a tocar as luvas do rival. Pronto, a história de mocinho e bandido estava completa, mas faltava, de fato, a vitória de Leandro. Claro que nenhum fã de MMA esperaria por pancadaria, mas a encenação do combate foi das piores. Pouca ou quase nenhuma ação, e um nocaute dos mais falsos.

A volta do herói
Curioso foi ver como as coisas mudaram quando Wallace Mu entrou em cena. O lutador já tinha vivido um recomeço à la Rocky no MMA durante a novela, só faltava um final no melhor estilo Balboa. E foi isso que aconteceu. Na trama, ele teve um problema no coração, e o autor Aguinaldo Silva pensou até em matar o personagem. A doença regrediu ao mesmo tempo em que a Globo adquiria os direitos do UFC para o Brasil, e o lutador pôde voltar aos ringues.

A pré-luta teve comentários de estrelas reais do MMA, como José Aldo, Rousimar “Toquinho” Palhares e Minotauro, enchendo a bola de Wallace. A entrada foi à la Anderson Silva, e o apresentador se esforçou, sem sucesso, para imitar Bruce Buffer, a voz do UFC.

Enfim, a luta. Primeiro, Dagmar dos Anjos (Cris Vianna), mãe de Leandro e Leonardo e namorada de Wallace, ameaçou ir embora, com medo de ver o amado apanhar. Mas, instantes depois, ela mudou completamente de postura e até soltou um “mete a porrada nele” em alto e bom som. Leandro, o bom-moço que acabara de vencer sua estreia, até tentou, de novo, ser politicamente correto, mas o irmão o demoveu da ideia: “Deixa ela, faz bem”.

No combate em si, a preferência foi por cenas na grade do octógono (pode, Arnaldo, o técnico ficar grudado ali?) ou no chão. Com pouca movimentação dos lutadores, fica mais fácil de filmar, certo? No primeiro round, que acabou em menos de 1min, Wallace levou joelhadas, foi derrubado e viu seu oponente, Jorge Muralha, ficar na posição de ground and pound exatamente no momento em que o “gongo” soou. Já no segundo, bastaram 45s para que Wallace ressurgisse, derrubasse o rival e recuperasse o cinturão com um mata-leão.

Dagmar se emociona com a declaração de amor do namorado Wallace – Foto: Reprodução de TV/Globo

O discurso pós-título foi, de fato, uma declaração de amor. “Queria agradecer todo mundo, a torcida, todo mundo que está aqui, todo mundo que está em casa. Queria dizer que estou muito feliz em reconquistar o meu título, o meu cinturão. Dizer que você, Dagmar, você conquistou meu coração”, disse, trocando olhares emocionados e mandando beijinho para Dagmar. Duas ressureições na novela e discurso para a amada? O nome é Wallace Mu, mas pode chamar de Rocky Balboa.

A conquista do cinturão – de plástico, faltou capricho neste detalhe – selou o fim do MMA em Fina “Estampa”. Um fim cheio de romance e diálogos piegas, mas com pouca verossimilhança com a vida real. E ficou claro que novela “é uma obra de ficção” e “qualquer semelhança com fatos ou pessoas reais é mera coincidência”.

UOL

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