Árbitras reclamam de ter de lidar com cusparada, ameaças e assédio
Além de dedicadas, as árbitras do Campeonato Paulista também são vaidosas
Maria Elisa não entra em campo sem maquiagem. Tatiane não esquece o gel do cabelo e Regildênia limpa as chuteiras até com água mineral. Mais que a vaidade, essas mulheres têm em comum uma profissão bem masculina e, em campo, precisam esquecer o lado ‘mulherzinha’ para se impor como árbitra de futebol.
Tatiane está otimista para sua estreia na Série A1 do Campeonato Paulista Fernando Donasci/UOL
Além de conciliar duas profissões, elas convivem com as adversidades do jogo: xingamentos constantes da torcida, cobrança da imprensa diante de erros e situações mais complicadas como cusparadas e ameaças de dirigentes.
Árbitra assistente há dez anos, Maria Elisa Correia aprendeu a conviver com os percalços e ainda foi alçada ao posto de musa. A assistente foi convidada para posar nua na Playboy, em 2008, após a mais famosa das colegas, Ana Paula de Oliveira, trilhar o caminho e sair na capa da revista. Mas Maria Elisa manteve o foco no trabalho e não aceitou o convite, apesar de admitir ter ficado lisonjeada.
“Um dia te colocam como musa, um dia não vão colocar. Eu já achava que poderia acontecer por causa da Ana Paula, mas nem pensei em estudar a proposta. Não é minha linha de trabalho. Fiquei envaidecida, é bom te acharem bonita, mas não me iludo com isso”, disse ela, que reconhece a vaidade e não dispensa salto alto e maquiagem no dia-a-dia.
Maria Elisa concilia a carreira com a de professora de Educação Física em Ituverava, no interior de São Paulo. A bandeira tem chancela da Fifa e está acostumada à pressão dos clássicos paulistas. É com perfeccionismo que procura crescer. Ela grava todos os seus jogos para observar posteriormente e se orgulha das poucas falhas na carreira.
Porém, já foi vítima da linha tênue que separa acertos e erros. Na final do Paulista de 2010 entre Santos e Santo André, Maria Elisa assinalou impedimento num gol legal do time do ABC. “Eu errei, me cobro muito, mas bola pra frente. Em dez anos de carreira, talvez tenha três erros de que as pessoas se lembram. Por ser um meio masculino, acho que dão mais ênfase aos erros das mulheres”, ponderou.
ÁRBITRA RECEBEU CANTADA DO SUB-20
Fernanda dos Santos interrompeu a carreira para ter seu segundo filho e agora concilia a vida de mãe com a de árbitra central. Por ter ficado afastada, ela recomeçou nos torneios das categorias de base como Copa São Paulo de futebol júnior, sub-20 e até sub-11 e sub-12. A bandeira usa instinto maternal para lidar com os garotos do infantil e até ensinar, mas quem dá trabalho mesmo são os atletas do juvenil. Segundo Fernanda, eles são abusados nas cantadas.
Tatiane Saciloti ainda vai entender essa pressão. Em 2011, fará sua estreia na Série A1 do Paulistão como assistente, mas já com a bagagem adquirida ao longo dos sete anos que passou nas divisões inferiores.
UOL
Na Série A2, em uma partida do Velo Clube, ela teve de sair de campo com a camisa toda molhada por causa das cusparadas da torcida, mas manteve a concentração e terminou o jogo normalmente. O momento mais tenso da carreira, no entanto, foi ser ameaçada pelo dirigente de um clube do interior, que chutou a porta do vestiário após a partida e ameaçou: “você não sai daqui viva”.
Apesar de ter apenas 24 anos, ela fala com naturalidade e admite que interferir no resultado é o pavor de qualquer árbitro, além de jamais rever um lance no intervalo e de, muitas vezes, faltar convicção nas marcações de impedimento. “Bate a dúvida, mas não dá para pensar em nada. Tenho que decidir e pronto. Em três segundos”.
Quem fatalmente irá passar por esse tipo de polêmica no Paulistão-2011 é Regildênia de Holanda Moura. A central trabalhará como árbitra adicional atrás do gol na nova função criada para ajudar em lances polêmicos na grande área.
Mas ela não se intimida, ao contrário, gosta do desafio. Prova disso é que está entre as três únicas árbitras centrais do quadro da Federação Paulista de Futebol para apitar o estadual. Para se impor diante dos homens, ela deixa o alegre jeito nordestino de lado e incorpora a cara sisuda.
“Acho que as mulheres preferem bandeirar porque se intimidam no centro do campo. Não vou me achar a menininha do jogo, não fico melindrada. O cara vai testar e preciso ser forte. Mas é gostoso quebrar tabus, vencer algo mais difícil. Parece droga, veneno na veia”, afirmou.
Regildênia escolheu ser central justamente por causa de um homem, o ex-marido, que a aconselhou dizendo que era mandona e autoritária demais. Ela leva a profissão tão a sério que decidiu não ter filhos, tampouco outra atividade.
Agora, terá um ganho financeiro importante, já que um árbitro central da Série A1 ganha cerca de R$2 mil por jogo, enquanto o assistente recebe R$1 mil. Na Série A2, os valores caem praticamente pela metade e diminuem proporcionalmente de acordo com as divisões. Compensação para quem tem a dificil tarefa de aliar a vaidade feminina à firmeza para conter atletas, torcedores e dirigentes raivosos.
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